terça-feira, 31 de julho de 2012

13º ENCONTRO ESTADUAL DE CEBS

CEBs Proféticas e Missionárias na Vivência do Reino
Justiça e Profecia a Serviço da Vida

Carta à Igreja – Comunidade de Comunidades

Irmãs e irmãos das Comunidades Eclesiais de Base da terra de Sepé Tiarajú,

Paz e Bem!

Sob o céu azul do nosso querido Rio Grande, recebidas/os calorosamente por jovens e acolhidas/os pela hospitalidade das famílias e equipes das comunidades de Santa Maria, o coração deste estado, onde brilha o testemunho de profetas como Dom Ivo e de lutadores/as que teimam em gerar formas alternativas de desenvolvimento como o cooperativismo e a economia solidária, seguindo as trilhas da fé e movidas/os pelo combustível da esperança, nós estacionamos por três dias o trem das CEBs e armamos nossa tenda ao redor do santuário da Medianeira, irmã peregrina dos pobres, profetisa do povo libertado, mãe de todos e todas nós. Com seus vagões cheios de alegria e esperança, fazendo memória do 8º Encontro Nacional de CEBs, aqui realizado em 1992, e impulsionadas pela indignação profética contra a injustiça e muitas vezes, a indiferença que tornam deserdados milhares de irmãos e irmãs empobrecidos, nós ousamos dizer com nossos mártires de ontem, de hoje e de sempre: - Aqui estamos, Comunidades Proféticas e Missionárias na Vivência do Reino, a Serviço da Vida!

As CEBs do Rio Grande do Sul, durante os dias 26 a 29 de julho de 2012, a caminho do 13º Intereclesial das CEBs do Brasil, que será nas terras do Padre Cícero, em 2014, representadas por mais de 1300 delegados/as refletimos e celebramos os sinais de libertação existentes em nosso meio, realizados pela aliança do Deus libertador com seu povo.

Foi com muita alegria e profunda esperança que convivemos com os/as irmãos/ãs das Igrejas cristãs Anglicana, Luterana e uma irmã da Igreja Metodista. Temos consciência que precisamos avançar nesse processo de unidade com todas as denominações religiosas porque o que nos une é maior do que aquilo que nos separa, e a luta pela paz no mundo reclama essa unidade entre nós.

O caloroso encontro de abertura e as oito vibrantes mini plenárias fizeram nossas entranhas estremecer, engravidando-nos de esperança renovada na realização do sonho de Deus, descortinando novos horizontes a partir do deserto. As mini plenárias abordaram a relação das CEBs com Justiça e Profecia na Bíblia e na Vida; a sua Missão nas lutas do povo; a Vida no Planeta; a Mística e a Espiritualidade nas Romarias; Profetas e Profetisas ontem e hoje; Juventudes; os Movimentos Populares e o Macro Ecumenismo.
Como Igreja, comunidade de comunidades, samaritana, fraterna e em comunhão com os oprimidos que se libertam, reafirmamos o nosso compromisso com as dores e angústias, as alegrias e esperanças particularmente dos que sofrem, pelo fortalecimento da identidade de nossas comunidades eclesiais de base, proféticas, ecumênicas, espaços de partilha, de formação, da leitura popular, orante e profética da Bíblia, de celebração da vida do povo. Queremos fortalecer a fé na construção de Outro Mundo Necessário e Possível, cujos sinais se expressam já aqui pela ação dos pobres constituídos em povo profético e missionário, graças à força criadora do Espírito, que fundou e fecundou a vida de Jesus de Nazaré.

Denunciamos a violência das estruturas injustas que oprimem os pobres, exterminam as crianças e os jovens, ferem a dignidade das mulheres, alimentam a discriminação, desrespeitam a Terra e seus filhos. Não podemos nos calar diante da iniqüidade da corrupção de nossa sociedade perversa e pervertedora, que reclama profundas reformas do Estado vigente e de toda economia para que efetivamente estejam a serviço da vida e garantam os direitos de toda população, impulsionando uma sociedade sustentável, nas trilhas da Justiça e da Paz.

Como CEBs, esse jeito de ser Igreja seguidora do Nazareno, queremos testemunhar o caminho da solidariedade em vez da competição, da partilha e do consumo ético, em vez do consumismo individualista e do acúmulo sem fim, gestando relações de inclusão, de igualdade, reciprocidade, respeito às diversidades. E o queremos ser no meio dos pobres e como pobres constituídos como POVO e POVO DE DEUS, fermento, sal e luz, ajudando a impulsionar o protagonismo dos que precisam das mudanças, apoiando, incentivando e ajudando a organizá-los para, frente à globalização do capital, construir a globalização da esperança, fundada na solidariedade, com justiça social e ambiental.

Como batizados/as, conscientes de nossa missão, voltamos às nossas comunidades com a esperança revigorada e acalentada pela partilha que vivenciamos nesses dias. Nos disponibilizamos a impulsionar o compromisso com o profetismo pela justiça a serviço da vida, no campo e na cidade. Caminhamos como cidadãs e cidadãos do Reino, rumo à Galiléia, onde faremos memória da morte e ressurreição do Nazareno em cada gesto de solidariedade entre nós e com os mais necessitados.

Seguimos os passos de Jesus de Nazaré, na certeza de que a nossa mãe Maria, Medianeira de todas as graças, militante do Reino, mãe de Jesus e nossa mãe, caminha conosco e nos ensina a ler sinceramente o Evangelho de seu filho e nosso irmão e a traduzí-lo para a vida, com todas as revolucionárias conseqüências, no espírito das bem-aventuranças e no risco total daquele amor que sabe dar a vida pelos que ama.

Com Sepé Tiarajú, Roseli Alves Nunes, tantos e tantas que regaram com seu suor, suas lágrimas e seu sangue essa terra sagrada e com Josimo Tavares, proclamamos: - “Nas mãos do povo, nas línguas da história: o desafio da nova sociedade. Como se descama o peixe, e com sal lhe devolve o gosto ardente que sacia a fome aguda de quem navega a liberdade, assim os pequenos e oprimidos, em passos de esperança, arrancarão de nossa história o medo e, com palavras vivas de quem luta, canta e clama, nutrirão as entranhas do tempo com o sangue do direito e da justiça. Homens e mulheres, cada ser do universo, construirão o movimento inesgotável da libertação definitiva.” (Desafio, poema)

Encerrando o nosso 13º Encontro Estadual de CEBs, firmamos o que segue:

Nós, das CEBs Proféticas e Missionárias na Vivência do Reino, nos comprometemos:

- com uma catequese voltada para as famílias, formação bíblica a partir da leitura popular e da leitura orante, de forma que na partilha do bem e na prática da justiça possamos participar efetivamente e chamar novas pessoas para uma maior participação da Igreja na política, nos conselhos municipais, estaduais e federais, na defesa do meio ambiente, das fontes de água e do SUS;

- a aprofundar e fortalecer o estudo da identidade das CEBs, proféticas, missionárias, democráticas e ecumênicas e divulgar e motivar à participação de mais pessoas;

- a assumir a defesa da vida do planeta, buscando um modo de vida sustentável que respeita o meio ambiente;

- com as iniciativas dos excluídos (catadores, indígenas, meninos/as de rua, donas de casa, sem terra, ribeirinhos...) que, com suas experiências, denunciam o modelo capitalista excludente, que gera opressão e exclusão, apontando assim para a construção de uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, socialmente equitativa e culturalmente plural;

- a trabalhar para que as Romarias priorizem a mística e a espiritualidade a serviço da vida, alicerçada na escuta da Palavra, do compromisso profético e libertador;

- a promover a Romaria Libertadora da Juventude;

- a promover a formação de lideranças nas comunidades, a partir de uma leitura popular, orante e profética da Palavra de Deus;

- a dinamizar espaços que qualifiquem e sintonizem a vida litúrgica das comunidades com a vida das juventudes, garantindo o protagonismo juvenil, levando ao engajamento e comprometimento com a realidade das/os empobrecidos/as;

- com a organização na base, a partir da esquerda, na luta popular:

* participação da organização e realização do 18º Grito dos Excluídos;

* assumir e impulsionar a 5ª Semana Social Brasileira;

* apoiar o projeto de lei de iniciativa popular que visa a criação de uma política nacional da Economia Solidária;

* apoiar a luta contra os agrotóxicos.

- a não medir esforços para superar toda a intolerância existente entre as religiões e construir juntos, a partir daquilo que nos une, a luta pela justiça e pela paz.

- a lutar pela adequação das atuais estruturas da nossa Igreja para que a ela seja um instrumento eficaz a serviço das comunidades, abertas para as juventudes, a festas do povo e sua organização por seus direitos.


Santa Maria, 29 de julho de 2012
Delegados e delegadas do 13º Encontro Estadual de CEBs

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