NOTA
SOBRE A SITUAÇÃO DO PAÍS
A Conferência dos Religiosos do Brasil, por ocasião do Congresso Nacional para
a Vida Consagrada, realizado nos dias 07 a 10 de abril de 2015, em
Aparecida, São Paulo, com a presença de mais de dois mil Religiosos e
Religiosas de muitas Congregações e Institutos de Vida Consagrada, Sociedade de
Vida Apostólica e Institutos Seculares, de todo o Brasil, refletiu, entre
outros assuntos, sobre o complexo e difícil momento pelo qual passa o
País, sobretudo no que se refere à ameaça aos avanços sociais e aos processos
democráticos, que consolidamos nos últimos anos, bem como sobre as
dificuldades econômicas que assolam nossa população.
Refletindo sobre a identidade e profecia, constatou-se a urgência de uma reação
pacífica, mas contundente, contra as práticas repressoras em curso: a iminência
de aprovação da redução da maioridade penal, a perda de conquistas
trabalhistas, a lentidão da nossa justiça, a corrupção e, por vezes, a
manipulação midiática que distorce os fatos e imprime uma abordagem
parcial dos mesmos.
É legítimo o clima de insatisfação popular frente ao “escândalo da corrupção na
Petrobrás, as recentes medidas de ajuste fiscal adotadas pelo Governo, o aumento
da inflação, o aumento abusivo dos preços de determinados serviços, a crise na
relação entre os três Poderes da República”. No entanto nada legitima um “golpe
na democracia”, pois o Estado Democrático de Direito foi conquistado com muita
luta, sofrimento e martírio em tempos não muito remotos.
As manifestações de rua, ainda que legítimas, correm o perigo de
servirem aos interesses privados de grupos fechados ao bem da população,
em particular dos mais pobres.
Conscientes de que o que está em jogo é um conflito de projetos de
sociedade, nossa missão profética coloca-nos sempre ao lado
dos que mais sofrem, com uma postura ética, pautada na justiça e defesa dos
direitos. Por isso, nos posicionamos contra toda forma de
dominação, interesses, iniciativas e processos que violentem ou abortem
as conquistas que potencializam a inclusão dos mais pobres. Assumimos o projeto
de Lei de Iniciativa Popular obra da coalizão pela Reforma Política Democrática
e Eleições Limpas. Nos posicionamos contra a redução da maioridade penal, o não
reconhecimento das causas indígenas e dos quilombolas, e refutamos todas as
atitudes que ferem a democracia e a legitimidade das eleições.
Convocamos a todas e todos para que se mantenham firmes
neste caminho, com uma postura crítica e lúcida neste momento histórico,
discernindo com solicitude o que apoiar, exercendo uma cidadania ativa
voltada para o fortalecimento das causas da justiça e da paz.
Que nossa Senhora Aparecida, nos ilumine e conduza sempre nos caminhos da
justiça e profecia.
Aparecida,
10 de abril de 2015.
IR.
MARIA INÊS VIEIRA RIBEIRO, mad
Presidente
da CRB Nacional
Pelos
Consagrados e Consagradas presentes no Congresso
Nacional
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